Exclusivo: consignados dobram no INSS e somam R$ 466 bilhões em meio a fraudes
São Paulo, 27 nov 2025 – O faturamento dos bancos com empréstimos consignados do INSS dobrou nos últimos cinco anos, alcançando R$ 466 bilhões entre janeiro de 2020 e outubro de 2025, período em que a carteira de contratos ativos cresceu 52 %, passando de 23 milhões para 35 milhões. Os dados, obtidos com exclusividade pelo Metrópoles via Lei de Acesso à Informação, revelam que 87 instituições financeiras atualmente credenciadas pelo instituto extraíram até R$ 9 bilhões em um único mês, impulsionadas pelo aumento do número de bancos autorizados — de 52 para 87 — e por operações que somam R$ 100,8 bilhões só em 2024.
A escalada ocorre em meio a investigações e condenações judiciais por fraudes no desconto de parcelas sem autorização dos beneficiários. Desde abril, a Operação Sem Desconto, da Polícia Federal, mira esquemas bilionários de descontos indevidos sobre aposentadorias, o que levou o Congresso a questionar publicamente o sigilo que até então envolvia os valores exatos faturados por cada banco. Procon e juizados especializados já recebem reclamações semelhantes sobre consignados: descontos mensais efetuados sem consentimento, muitas vezes atribuídos a contratos firmados por meio de Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) com o INSS — os mesmos mecanismos usados pelas associações suspensas após a operação.
Os documentos mostram que o crescimento mais acentuado coincidiu com a pandemia de Covid-19, quando o governo flexibilizou regras para ampliar o acesso ao crédito. Em janeiro de 2020, os bancos rendiam R$ 4 bilhões ao mês; em 2021, já somavam R$ 7,4 bilhões mensais. Entre os beneficiados, destacam-se C6 Consignado e Agibank: o primeiro saltou de 514 clientes em março de 2020 para 3,36 milhões em abril de 2025; o segundo atingiu 1,57 milhão de contratos ativos no mesmo período. O Bradesco continua na liderança absoluta, mas a diferença para os novos competidores diminuiu rapidamente, refletindo a corrida por fatia de um mercado que movimenta mais de meio trilhão de reais em cinco anos.
Para especialistas ouvidos na apuração, a alta rentabilidade combinada à fiscalização limitada cria ambiente propício a abusos. O INSS, responsável por autorizar ou cancelimir ACTs, informou que mantém os dados de faturamento em sigilo por “questões de competição”, mas passou a ser cobrado pela Comissão de Fiscalização Financeira da Câmara dos Deputados a apresentar, em audiência já requerida, o detalhamento de quanto cada banco lucra com consignados e quantas autorizações foram canceladas após denúncias de fraude. Até outubro, o número de contratos novos mensais voltou a crescer 8 % em relação a igual mês de 2023, indicando que, apesar das investigações, o crédito consignado segue como principal fonte de receita de grandes e médios bancos que operam com aposentadorias e pensões pagas pelo governo federal.