‘Mad Men’, uma das séries mais bem avaliadas da TV, retornará ao streaming
Nova York, 1960: o uísque escorre nos copos antes do almoço, o cigarro é “saudável” e o maior produto em venda é a imagem. É nesse cenário que Mad Men, série que conquistou 16 Emmys e 5 Globos de Ouro, volta a circular – agora no Disney+ a partir de 14 de dezembro, com as sete temporadas completas. Criada por Matthew Weiner, a produção segue o dia a dia da fictícia Sterling Cooper, uma das agências mais cobiçadas da lendária Madison Avenue, e coloca no centro Donald Draper, o diretor de criação que tem tudo para dar errado: charme, talento e um passado que não para de lhe puxar o paletó.
O que se desenrola daí é um painel de época que fala menos de publicidade e mais de poder, identidade e desejo. A série costura tramas de bastidores com reflexões sobre consumo, preconceito e a invenção do “american way of life” sem precisar bater panela. Jon Hamm constrói, temporada após temporada, um herói antipático que convence o cliente – e o espectador – de que felicidade é aquilo que ainda não foi vendido; Elisabeth Moss, Christina Hendricks, January Jones, John Slattery e Vincent Kartheiser formam o círculo de colegas, amantes e rivais que orbitam em torno de Don, cada qual carregando sua própria batalha por espaço numa hierarquia onde o gênero, a classe e a cor da pele definem o tamanho do cartão de visitas. A direção mantém a câmera quieta, deixando que os diálogos afiados e o design de produção impecável (trajes, mobiliário, móbiles pendurados no teto) transportem quem assiste para dentro daquelas salas de reunião onde ideias viram slogans e slogans viram dinheiro.
Para quem nunca viu, Mad Men oferece o prazer de acompanhar uma narrativa que prefere o conflito interno à reviravolta fácil; para quem já conhece, a chance de reencontrar nuances que só aparecem na segunda tela. O diferencial está no ritmo que dá tempo aos personagens respirarem – e trapacearem, sonharem, falharem – sem julgamento moral da trilha sonora. Assim, quando o episódio termina, resta aquele gosto de quem acaba de lembrar que marcas vendem histórias, mas são as pessoas que carregam os rótulos – e que, no fundo, todos queremos um pitch perfeito para justificar quem somos.